O VIDEO:
Por DuNada
Totem na Pedra da Onça – Castelo / C. de Itapemirim ES
O interesse em escalar o totem veio após a
abertura da rampa de base jump no cume da Pedra da Onça, cujos atletas
divulgaram alguns vídeos e dentre eles um mostra o totem com perfeição.
Daí veio à vontade de iniciar a conquista, um cume virgem e com a galera
do base jump dando um show a parte.
Foram necessárias três investidas:
A primeira foi para decidir o melhor
acesso à base. Chegamos cedo à região e a pedra estava encoberta por
nuvens, por isso rodamos por várias propriedades até encontrar o melhor
acesso. Na propriedade da família Cola encontramos o Zé Criolo, um cara
que também se interessou pela causa e ajudou demais na orientação dentro
da mata para o melhor acesso a base. Neste dia o casal, Lú e Xerxes,
também estavam na empreitada e também comeram o bolo de milho quentinho
(broa) oferecido pela Valéria, esposa do Zé Criolo. Como esse bolo foi
lembrado e relembrado várias vezes…
Na segunda investida, após alguns dias,
conquistamos aproximadamente 150 metros de via. Decidimos seguir uma
linha menos óbvia, com menos vegetação e na face do totem. Esta escolha
resultou numa escalada bem técnica, constante e com três crux’s
isolados. Achar o primeiro grampo não é uma tarefa fácil, pois este está
localizado à direita da primeira canaleta gigante com trepa pedras,
mato e árvores dentro dela.
Deixamos de escalaminhar este trecho e como
já foi dito partimos pela direita, contudo o último rapel foi feito por
dentro dela, ficou mais fácil! Neste dia chegamos até a P4 e deixamos
cordas fixas para trás.
Na terceira investida, após dois anos,
voltamos para terminar o totem e as cordas fixas não serviram para mais
nada, ou quase nada, pois a utilizamos apenas para içar o material da P1
até a P3. Afeto repetiu a conquista e dormimos na P4.
Mas tudo isso não foi tão simples assim. O
primeiro perrengue foi na conversa com o proprietário, que após esses
anos mudou de ideia sobre a nossa passagem em suas terras. Ocorreu um
problema seriíssimo numa propriedade vizinha, cujo proprietário não
autorizou o acesso à cachoeira da prata e em contrapartida recebeu
diversos desaforos dos “aventureiros”. De acordo com a explicação, os
responsáveis pelo grupo são de Cariacica e os mesmos tem uma espécie de
grupo de amigos ou empresa de turismo de aventura.
Questionaram sobre o
acesso, indagando que o dono era obrigado a deixa-los passar e chegaram
até a falar que a cachoeira não era dele! A polícia precisou ser
acionada.
Contudo, mesmo diante deste cenário,
conseguimos mostrar nossas reais intenções e que os próximos
frequentadores não terão a mesma mentalidade. Como em qualquer outra
propriedade, pedir permissão para acessar a pedra e respeitar a decisão
do proprietário é obrigatório!
O segundo perrengue foi se perder na
mata. Há anos atrás cogitamos que este era um acesso relativamente fácil
quando comparado a outros, mas a mata fechou e nos perdemos durante a
subida. Desorientados…
Chegamos à base do costão, que antes fora
contornado pela caminhada guiada pelo Zé Criolo, e começamos nossa
escalada dali achando que o primeiro grampo estava próximo. Esticamos
uma corda inteira e… Nada! Mais uma e… Nada! Outra e… Nada de chegar à
base! Foram aproximadamente 200 metros de costão até chegar ao primeiro
grampo e quanto mais à gente subia maior era o grau de dificuldade e
exposição. Se este trecho fizesse parte da via com certeza receberia
alguns grampos. O sobe e desce neste trecho com as cargueiras foi muito
sofrido e o resultado foi um desgaste físico a mais, que obviamente não
estava previsto! Este erro atrasou mais ou menos 5 horas o início da
escalada e consequentemente nosso plano de passar um dia inteiro
escalando e na manhã seguinte apenas rapelar estava comprometido.
Mesmo em condições desfavoráveis
resolvemos subir e conquistar pelo menos mais uma enfiada. A comida se
resumia num pacote de granola, um biscoito de água e sal, um biscoito
recheado e três litros d’água. Neste dia apenas tomamos um café da manhã
reforçado na casa do Zé e comemos uns punhados de granola com biscoito
de água e sal. Até agora eu me pergunto onde tinha água naquele
biscoito?! Ele estava mais seco que um deserto…
Após a repetição do trecho já conquistado
chegamos na P4 e armamos acampamento. Conseguimos bater mais um grampo
assim que escureceu, mas resolvemos parar após alguém começar a piscar
lanterna em nossa direção e responder as batidas do nosso martelo com
batidas numa espécie de latão ou tonel de ferro.
Rapidamente desligamos as nossas
lanternas, mas mesmo assim este indivíduo continuou a piscar até de
madrugada, atrapalhando nosso merecido sono. Outra coisa que atrapalhou
nosso sono foi a fome, pois acordei desesperado e passei a comer granola
desesperadamente!
Pela manhã acionaram o corpo de bombeiros
para prestar um possível socorro, ligando a sirene e passando de
propriedade em propriedade perguntando sobre quem estava agarrado na
pedra. Eles só não passaram na propriedade do dono das terras, que
estranho! Ligamos para corporação, conversamos sobre a ocorrência e
explicamos que não se tratava de um parapentista ou base jumper agarrado
na pedra. Diga-se de passagem, que a polícia também foi acionada e
compareceu à casa que abrigava os basejumpers para averiguações.
Esse foi o assunto dos vilarejos
localizados ao redor da pedra: Quem estava agarrado lá?! O Zé Criolo
conseguiu explicar para um ou outro morador, contudo esse era o assunto
do dia!
Dois basejumpers deram um show a parte
abrindo os paraquedas bem próximo da gente. E também conseguimos
registrar um salto de wingsuit, foi muito maneiro!
Mesmo em condições desfavoráveis
resolvemos atacar para o cume, ou pelo menos pra cima, ou pelo menos
mais um pouco. Traçamos a rota e contamos um pouco com a sorte de não
precisar voltar antes de um platô gigante localizado bem acima, um pouco
antes do cume e se aquilo realmente era um platô que desse para
escalaminhar e consequentemente rapelar com mais facilidade. Ainda bem
que ao conquistar este platô vimos que era possível chegar bem na
pontinha e bater uma parada, apenas para rapel, mas não tínhamos certeza
de onde ele iria chegar ou se seria negativo, etc.
Na dúvida se o rapel daria certo ou não… E
faltando apenas uma enfiada para o cume… Toca-toca pra cima! A última
enfiada realmente parece um totem que encontramos para demarcar trilhas:
Uma canaleta cheia de pedras amontoadas e a maioria solta, mas que com
jeitinho tem como passar! A maior dificuldade foi para escolher o melhor
local para bater os grampos da parada, pois a base estava completamente
“podre” e a parede principal negativa… Putz, ainda bem que tinha um
bloco de pedra atrás e deu para usá-lo como parada. Agora era a hora de
trazer o segundo para cima e… CUME!!!
Muita felicidade e preocupação de estar
ali, pois o rapel era incerto, pouquíssima água, muitíssima fome, estava
no meio da tarde, ainda tinha que bater dois grampos para o rapel e a
gente não sabia que horas nossa energia iria acabar.
Após dois grampos batidos o por do sol
começou a aparecer e rapidamente conseguimos voltar para P4 fazendo
apenas dois rapéis e uma pequena travessia horizontal. A sensação de
chegar na P4 era a de chegar em casa… Nem tanto assim, mas foi uma
sensação boa por que todos os rapéis dali pra baixo já tinham dado certo
uma vez, coisa e tal… Escureceu nesta parada!
Rapelar a noite foi tranquilo, contudo o
problema seria atravessar a mata que subimos perdidos, sem o mínimo
senso de orientação e forças para abrir o mato. Contamos com a ajuda do
Zé Criolo, que subiu no final da tarde e aguardou pacientemente a nossa
descida. Já no escuro, e com apenas a luz de um celular em mãos, ele
veio ao nosso encontro e abriu um emaranhado de cipó com arranha gato e
bambu espinhento… Isso um pouco abaixo daquela trilha que abrimos há
dois anos e hoje está fechada. Na verdade o que o Zé fez não foi uma
ajuda e sim um resgate, pois a gente não tinha a mínima chance de
conseguir atravessar a mata durante a noite e mais um dia sem comer a
coisa iria complicar.
A descida não foi fácil. Era constante a
gente se perder na mata e ter que atravessar outros emaranhados de cipó
com arranha gato. Fazia inveja da habilidade do Zé com o facão e da
rapidez que ele encontrava uma solução. Encontramos um rastro da
primeira trilha que abrimos e descemos por ela, ou não!
Durante a descida tivemos uma notícia
estimulante, pois o Zé disse que sua esposa preparou uma lasanha pra
gente! Confesso que depois disso fiquei muito mais motivado para chegar
logo… rsrs
Exaustos, desidratados e famintos nós não
fizemos feio na casa do Zé. Nós tomamos banho antes de devorar a tão
esperada, sonhada, idolatrada… Lasanha!
De barriguinha cheia, sãos e salvos… Agora só nos resta dormir e muito!
Agradeço o apoio da Família do Zé Criolo,
que foi de extrema importância nesta empreitada e que também faz parte
da história desta conquista!
Agradeço também a minha família, Celin,
que também ajudou e sempre esteve a disposição para o que precisássemos.
Tia Lena com sua comida e hospitalidade maravilhosas. Estevão, meu
primo, sempre fazendo uma graça com um peixe frito, churrasco… Desta vez
furamos com ele e espero que ele leia este relato para entender o
motivo!
E agradeço principalmente ao Afeto, pois
muitos verbos que conjuguei neste relato na primeira pessoa do plural
era pra ser no singular. Incrível o que ele fez nesta conquista e
consequentemente me deu este presentão!
Conquistadores:
Caio Salomão Amador – Afeto
Roney Celin Magri – DuNada
Data da Conquista: 26/06/2012
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